segunda-feira, 19 de março de 2012

O retrato de um discurso perdido ou nem tudo são flores


- A vida tem que ser mais simples. – dizia Carlota (nome até bem apropriado, combinava com ela) com tamanha naturalidade que até parecia parte de sua filosofia de vida. Dorothy, em um primeiro momento, ficou atraída pela postura simples que Carlota propunha a si mesma.

Conheceram-se. Discordaram. Brigaram. Juntas. Sozinhas. Em grupo – discórdia.

E aquela frase ecoava na cabeça confusa, metódica e dúbia de Dorothy: - mas ela não dizia que a vida tinha que ser mais simples?

E Dorothy pediu perdão. Mesmo achando que estava certa. Orgulho, sim. Ela está trabalhando nisso.

E então perdoou as palavras fortes que a ela foram dirigidas. É, perdoou. Perdoaram-se. Uma. E, depois, a outra.

E mesmo com toda a mágoa, com toda a dor, tinha ainda algum amor perdido dentro daquela menina-mulher - mulher-menina que era.

E começou tudo de novo.

Reconheceram-se uma na outra. Outra na uma. Discordaram. Brigaram novamente. Fizeram as pazes. Primeiro, declaradamente, depois, o silêncio. Cada uma para um lado. Só que dessa vez, definitivamente.

E aquela frase pesava na cabeça da pequena Dorothy: - A vida tem que ser mais simples.

Prova. Provação. Dificuldade.

Vida. Viver. Simplicidade?

Impossibilidade!

Frase fajuta, lugar-comum, massificada, repetida, feita e pronta? Pode até ser. Frase ironizada.

Discurso não posto em prática: ironia do destino, pedra no caminho.

A palavra pela palavra perde força, aplicabilidade, vivacidade, colorido.

Perde sentido.

Como ousar, então, se perder no sentido do discurso morto?

Discurso pelo discurso.

Ou o discurso pelo ego.

Discurso engessado, fora de forma, capenga, desbaratinado pela ânsia da satisfação pessoal.

Zupt. O momento passou.

De uma hora pra outra, o momento passou, e o discurso já não serve mais.

Nem mesmo para justificar as fraquezas que Carlota trazia na montagem e repetição daquela linda frase feita.

Após um longo suspiro, Dorothy desistiu. E entregou os pontos. Acabou. Cedeu à realidade. Conformou-se.

Cada uma seguiu seu rumo. Lembraram-se dos bons momentos.

Depois de um tempo, nunca mais se viram.

Nem tudo são flores.

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