quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Fotografia: uma provocação necessária


O envolvimento...

 Ontem, tarde da noite, ao chegar em casa, tomei um banho e liguei a TV. Mas liguei pra dormir mesmo. Parece até contraditório, mas pra mim, faz todo o sentido do mundo. Não sei se faz mal, sei que é bom. E me conforta. Nada melhor pra dormir do que um documentário, com imagens p&b e a voz do narrador ao fundo. Não que eu não goste desse gênero, pelo contrário, além de apreciar, acredito que, como toda arte, merece atenção e respeito pela pesquisa, estudo e envolvimento do artista com sua obra. Mas o fato é que, depois de um dia cinza e com chuva torrencial – e junte-se a isso muito, mas muito sono - não via nada melhor a fazer naquele momento. Pois é, e essa foi minha intenção ontem à noite, quando tomei o controle em minhas mãos e comecei a zapear canais de TV, sem muito interesse. Mas, surpreendentemente, fiquei acordada, mesmo estando muito cansada e com um baita sono.

O interesse...

 Nem preciso falar que acabei achando algo de muito interessante, né? O assunto? Entrevista com Bob Wolfenson, considerado por muitos, um dos maiores fotógrafos da América Latina, muito conhecido pelos excelentes ensaios realizados com celebridades nuas. E aí está ela novamente: a fotografia. Estamos rodeados dela e por ela, sem censuras. E, frise-se, muito antes de ela se transmutar em fotografia propriamente dita. Rodeados de momentos, de cenários, de lugares familiares e outros antes desconhecidos, de personagens, de caricaturas em formas de pessoas, de pessoas em forma de caricatura, que, em algum momento, fazem parte da nossa história, de nossa vivência.
O retrato de uma realidade, ou melhor, o retrato de um momento. Realidade momentânea, pronto, disse. Momento importante. Momento perdido. Momento dramático. Momento íntimo. Momento histórico. Momento puramente estético. Momento social. Não importa qual seja o momento, a arte da fotografia é legítima em todos eles. E muito, mas muito democrática.

Devaneios na livraria...

Folheando alguns livros de fotografia, em uma livraria na Paulista, um amigo comenta algo mais ou menos assim:
- Não consigo ver a contribuição daquele que retrata mulheres nuas, em poses sensuais. Prefiro muito mais fotos com viés social, que são capazes de passar uma mensagem mais humanista.
- É. - concordo eu, pensativa, mas ainda contrariada e perturbada com alguma coisa naquele comentário. E continuo – Entendo o que você quer dizer, o tipo de mensagem ali contida, a ideologia nas entrelinhas é realmente diferente daquela contida numa foto que retrata um contexto social...

De fato é...

E de fato, é. É fato que a ideologia em cada trabalho muda. E eu até podia ter até enfatizado isso, mas me calei. No fundo, fiquei remoendo aquilo. Ainda não conseguia entender por que valorar diferentemente e com pesos tão distintos a mesma arte se cada uma traz uma ideologia diferente e ajuda a construir a diversidade de ideias e expressões.

De fato é #2....

E é fato também que a maneira como os outros recebem e percebem uma foto de nu artístico e uma foto de cunho social é diferente. A mensagem chega transformada no interior de cada um. A intenção, no entanto, é a mesma: provocar um impacto, um diálogo com o receptor e a sua realidade. Tirá-lo da mesmice, mudar sua rotina. Provocar um pensamento, uma reação daquele que observa a obra. Cada tipo de fotografia tem a sua importância e utilização para um determinado grupo de pessoas.
E, na verdade, esse é o grande insight de arte fotográfica: a mudança do sujeito em relação ao objeto fotografado. A apreensão, o entendimento do objeto retratado de uma forma antes não pensada pelo observador.
Por isso, por que não dizer que cada obra fotográfica tem a sua importância e seu valor? Será que existem fotos desimportantes, desinteressantes? Ouso dizer que desinteressantes sempre existirão. É uma questão de gosto, e cada qual tem a sua esfera, o seu espaço íntimo para julgamento silencioso. Mas, a importância, ah, isso elas nunca perderão, porque tal arte é, no mínimo, agente transformador (antes do tudo) da alma humana - ou para os mais céticos, do cérebro humano.

Agente transformador...

Tem jeito mais legítimo de eternizar um momento, que muitas vezes passa despercebido pelos nossos olhos e sentido? Tem forma mais saudosista de relembrar bons momentos? Fotografia é sim registro perpetuado e, ao mesmo tempo, inacabado da realidade, mas também é liberdade, é a liberdade de quem produz, mas também é a liberdade de quem vê e sente naquilo algo que provoque a sua alma, que descortine aquele sentimento escondido, que intensifique os sentimentos e que aflore as suas paixões. Como negar esse acontecimento? Como negar essa provocação necessária? Será possível ignorá-la?

E você, querido leitor, como a fotografia te transforma?


Um comentário:

  1. Querida, como vc me conhece bem...ela me transforma no momento que me emociona, assim como todas as coisas bonitas da vida. Vc não vai acreditar, mas, uma vez um velho paçhaço disse: "Enquanto houver criança, haverá um palhaço, e enquanto essa criança sorrir, já valeu a pena".
    Isso é arte, se emocionou, já transformou, já valeu a pena...

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