O envolvimento...
Ontem, tarde da noite, ao chegar em casa, tomei
um banho e liguei a TV. Mas liguei pra dormir mesmo. Parece até contraditório,
mas pra mim, faz todo o sentido do mundo. Não sei se faz mal, sei que é bom. E
me conforta. Nada melhor pra dormir do que um documentário, com imagens p&b
e a voz do narrador ao fundo. Não que eu não goste desse gênero, pelo contrário, além de apreciar, acredito que, como toda arte, merece atenção e respeito pela pesquisa, estudo e
envolvimento do artista com sua obra. Mas o fato é que, depois de um dia cinza
e com chuva torrencial – e junte-se a isso muito, mas muito sono - não via nada
melhor a fazer naquele momento. Pois é, e essa foi minha intenção ontem à noite,
quando tomei o controle em minhas mãos e comecei a zapear canais de TV, sem
muito interesse. Mas, surpreendentemente, fiquei acordada, mesmo estando muito
cansada e com um baita sono.
O interesse...
Nem preciso falar que acabei achando algo de muito interessante, né? O assunto? Entrevista com Bob Wolfenson, considerado
por muitos, um dos maiores fotógrafos da América Latina, muito conhecido pelos
excelentes ensaios realizados com celebridades nuas. E aí está ela novamente: a
fotografia. Estamos rodeados dela e por ela, sem censuras. E, frise-se, muito
antes de ela se transmutar em fotografia propriamente dita. Rodeados de momentos,
de cenários, de lugares familiares e outros antes desconhecidos, de
personagens, de caricaturas em formas de pessoas, de pessoas em forma de
caricatura, que, em algum momento, fazem parte da nossa história, de nossa
vivência.
O retrato de uma realidade, ou
melhor, o retrato de um momento. Realidade momentânea, pronto, disse. Momento importante.
Momento perdido. Momento dramático. Momento íntimo. Momento histórico. Momento puramente
estético. Momento social. Não importa qual seja o momento, a arte da fotografia
é legítima em todos eles. E muito, mas muito democrática.
Devaneios na livraria...
Folheando alguns livros de
fotografia, em uma livraria na Paulista, um amigo comenta algo mais ou menos
assim:
- Não consigo ver a contribuição
daquele que retrata mulheres nuas, em poses sensuais. Prefiro muito mais fotos
com viés social, que são capazes de passar uma mensagem mais humanista.
- É. - concordo eu, pensativa,
mas ainda contrariada e perturbada com alguma coisa naquele comentário. E
continuo – Entendo o que você quer dizer, o tipo de mensagem ali contida, a ideologia
nas entrelinhas é realmente diferente daquela contida numa foto que retrata um
contexto social...
De fato é...
E de fato, é. É fato que a
ideologia em cada trabalho muda. E eu até podia ter até enfatizado isso, mas me
calei. No fundo, fiquei remoendo aquilo. Ainda não conseguia entender por que valorar
diferentemente e com pesos tão distintos a mesma arte se cada uma traz uma
ideologia diferente e ajuda a construir a diversidade de ideias e expressões.
De fato é #2....
E é fato também que a maneira
como os outros recebem e percebem uma foto de nu artístico e uma foto de cunho
social é diferente. A mensagem chega transformada no interior de cada um. A intenção,
no entanto, é a mesma: provocar um impacto, um diálogo com o receptor e a sua
realidade. Tirá-lo da mesmice, mudar sua rotina. Provocar um pensamento, uma
reação daquele que observa a obra. Cada tipo de fotografia tem a sua
importância e utilização para um determinado grupo de pessoas.
E, na verdade, esse é o grande insight
de arte fotográfica: a mudança do sujeito em relação ao objeto fotografado. A
apreensão, o entendimento do objeto retratado de uma forma antes não pensada
pelo observador.
Por isso, por que não dizer que cada
obra fotográfica tem a sua importância e seu valor? Será que existem fotos
desimportantes, desinteressantes? Ouso dizer que desinteressantes sempre existirão.
É uma questão de gosto, e cada qual tem a sua esfera, o seu espaço íntimo para
julgamento silencioso. Mas, a importância, ah, isso elas nunca perderão, porque
tal arte é, no mínimo, agente transformador (antes do tudo) da alma humana - ou
para os mais céticos, do cérebro humano.
Agente transformador...
Tem jeito mais legítimo de
eternizar um momento, que muitas vezes passa despercebido pelos nossos olhos e
sentido? Tem forma mais saudosista de relembrar bons momentos? Fotografia é sim
registro perpetuado e, ao mesmo tempo, inacabado da realidade, mas também é
liberdade, é a liberdade de quem produz, mas também é a liberdade de quem vê e
sente naquilo algo que provoque a sua alma, que descortine aquele sentimento escondido,
que intensifique os sentimentos e que aflore as suas paixões. Como negar esse
acontecimento? Como negar essa provocação necessária? Será possível ignorá-la?
E você, querido leitor, como a
fotografia te transforma?
Querida, como vc me conhece bem...ela me transforma no momento que me emociona, assim como todas as coisas bonitas da vida. Vc não vai acreditar, mas, uma vez um velho paçhaço disse: "Enquanto houver criança, haverá um palhaço, e enquanto essa criança sorrir, já valeu a pena".
ResponderExcluirIsso é arte, se emocionou, já transformou, já valeu a pena...