- A vida tem que ser mais simples. – dizia Carlota (nome até
bem apropriado, combinava com ela) com tamanha naturalidade que até parecia
parte de sua filosofia de vida. Dorothy, em um primeiro momento, ficou atraída
pela postura simples que Carlota propunha a si mesma.
Conheceram-se. Discordaram. Brigaram. Juntas. Sozinhas. Em
grupo – discórdia.
E aquela frase ecoava na cabeça confusa, metódica e dúbia de
Dorothy: - mas ela não dizia que a vida tinha que ser mais simples?
E Dorothy pediu perdão. Mesmo achando que estava certa.
Orgulho, sim. Ela está trabalhando nisso.
E então perdoou as palavras fortes que a ela foram
dirigidas. É, perdoou. Perdoaram-se. Uma. E, depois, a outra.
E mesmo com toda a mágoa, com toda a dor, tinha ainda algum
amor perdido dentro daquela menina-mulher - mulher-menina que era.
E começou tudo de novo.
Reconheceram-se uma na outra. Outra na uma. Discordaram. Brigaram
novamente. Fizeram as pazes. Primeiro, declaradamente, depois, o silêncio. Cada
uma para um lado. Só que dessa vez, definitivamente.
E aquela frase pesava na cabeça da pequena Dorothy: - A vida
tem que ser mais simples.
Prova. Provação. Dificuldade.
Vida. Viver. Simplicidade?
Impossibilidade!
Frase fajuta, lugar-comum, massificada, repetida, feita e
pronta? Pode até ser. Frase ironizada.
Discurso não posto em prática: ironia do destino, pedra no
caminho.
A palavra pela palavra perde força, aplicabilidade, vivacidade,
colorido.
Perde sentido.
Como ousar, então, se perder no sentido do
discurso morto?
Discurso pelo discurso.
Ou o discurso pelo ego.
Discurso engessado, fora de forma, capenga, desbaratinado
pela ânsia da satisfação pessoal.
Zupt. O momento passou.
De uma hora pra outra, o momento passou, e o discurso já não
serve mais.
Nem mesmo para justificar as fraquezas que Carlota trazia na
montagem e repetição daquela linda frase feita.
Após um longo suspiro, Dorothy desistiu. E entregou os
pontos. Acabou. Cedeu à realidade. Conformou-se.
Cada uma seguiu seu rumo. Lembraram-se dos bons momentos.
Depois de um tempo, nunca mais se viram.
Nem tudo são flores.